Tomar decisões é uma das formas mais potentes de afirmar quem somos. Mas para nós, mulheres, esse simples ato, que deveria ser natural, ainda é atravessado por uma série de desafios que, muitas vezes, nos fazem questionar até mesmo a nossa própria voz.
Vivemos em uma sociedade que, por muito tempo, nos ensinou a ocupar o espaço do cuidado, da renúncia e da docilidade. Fomos educadas para sermos boas filhas, boas esposas, boas mães, boas profissionais e, sobretudo, para mantermos o equilíbrio entre todas essas funções. Em meio a essas exigências, o exercício da escolha passou a ser medido por um padrão de agradar, de corresponder, de não decepcionar.
E aí começa a grande encruzilhada: como decidir por nós mesmas sem sermos vistas como egoístas? Como priorizar nossos desejos sem sermos acusadas de abandonar os outros? Como trilhar o nosso caminho sem carregar o peso da culpa?
Vamos debater mais sobre isso! Fique comigo até o final desse texto!
O fardo Invisível das expectativas
A verdade é que, quando uma mulher decide, ela raramente está decidindo apenas por si. Existe um fardo invisível que acompanha essa escolha: o de justificar, o de explicar, o de provar que aquela decisão é “válida” o suficiente.
Se escolhemos seguir uma carreira em vez da maternidade, questionam nossa sensibilidade. Se priorizamos a maternidade, duvidam da nossa ambição. Se queremos os dois, nos alertam que é “impossível dar conta de tudo”. Parece que qualquer decisão que tomamos carrega um rótulo, uma expectativa, uma cobrança.

Muitas de nós também fomos condicionadas a pedir permissão antes de agir. A consultar, a esperar a validação dos outros – seja da família, do parceiro, da sociedade.
E isso, aos poucos, mina nossa confiança interna. Começamos a duvidar de nossa própria intuição, de nossa capacidade de julgamento. Tornamo-nos especialistas em agradar, mas iniciantes em nos ouvir.
Decidir é também enfrentar medos profundos
Decidir, para uma mulher, quase sempre envolve enfrentar medos que foram socialmente cultivados: o medo de decepcionar, de falhar, de parecer “demais” – intensa demais, ambiciosa demais, ousada demais. Há também o medo do isolamento, de ser julgada, de não ser compreendida por aqueles que amamos.

Por trás de cada escolha, existe uma batalha silenciosa entre o que sentimos e o que nos foi dito que deveríamos sentir. Entre o que queremos viver e o que esperam que vivamos.
Essa luta é especialmente visível em momentos-chave da vida: quando saímos de um relacionamento tóxico, quando decidimos mudar de carreira, quando dizemos “não” a algo que todo mundo espera que digamos “sim”. São nesses momentos que a força interna precisa ser maior do que a voz do mundo.
A sororidade como refúgio e força
Felizmente, esse cenário tem mudado, ainda que lentamente. Cada vez mais mulheres têm ocupado espaços de decisão e compartilhado suas experiências. A sororidade, essa palavra tão bonita e cheia de significado, tem se mostrado uma fonte de cura, escuta e fortalecimento.
Conversar com outras mulheres, ouvir suas trajetórias, enxergar nossas dores espelhadas em histórias parecidas, nos ajuda a entender que não estamos sozinhas. Que essa dificuldade em decidir não é fraqueza pessoal, mas um reflexo de um sistema que nos moldou para duvidar de nós.

Quando nos apoiamos, nos libertamos. Quando nos ouvimos, nos reconhecemos. E assim, cada decisão tomada com coragem se transforma não só em um ato individual, mas também em uma forma de abrir caminhos para outras que virão depois.
A escuta ativa é uma das formas mais poderosas de acolhimento entre mulheres. É quando ouvimos não apenas com os ouvidos, mas com o coração aberto, sem interrupções, sem julgamentos, apenas presentes. Em um mundo que tantas vezes nos cala ou minimiza nossas dores, encontrar alguém que nos escute de verdade é quase um ato de cura.
Através da escuta ativa, validamos a experiência da outra, fortalecemos laços de confiança e criamos espaços seguros onde podemos ser quem somos, com todas as nossas dúvidas, decisões e recomeços. É nessa troca sincera que muitas vezes encontramos a força que faltava para seguir em frente.
Tomar decisões é um ato de autenticidade
Tomar decisões conscientes e alinhadas com nossos valores é um exercício diário de autenticidade. E autenticidade não significa ausência de medo, mas sim coragem de agir mesmo com ele presente.
Que possamos olhar para nossas escolhas com mais compaixão. Que possamos nos libertar do peso de sermos perfeitas e entender que toda mulher tem o direito de errar, recomeçar, mudar de ideia, seguir outro rumo. Tudo isso faz parte do processo de viver com verdade.
Cada vez que escolhemos por nós mesmas, estamos dizendo ao mundo que nossas vidas nos pertencem. Que temos o direito de ocupar o centro da nossa história.

As dificuldades que enfrentamos para tomar decisões não são sinal de fraqueza, mas sim de resistência. Somos mulheres em constante construção, aprendendo a confiar mais em nossa intuição do que nos ruídos externos. Aprendendo que decidir por nós não é egoísmo – é amor-próprio.
E que, sim, toda mulher tem o direito de decidir. Pelo corpo, pela carreira, pela vida. Com firmeza, com afeto, com coragem. E que cada decisão, mesmo que pequena, seja um passo a mais na construção de um mundo onde a gente ser quem é não seja um desafio, mas uma liberdade plena.
Se você sente que tem carregado o peso das decisões sozinha, ou se tem dificuldade em ouvir a própria voz no meio de tantas expectativas, talvez seja hora de olhar com mais carinho para si mesma.
A terapia é um espaço seguro onde você pode se escutar com mais profundidade, entender seus processos e fortalecer sua autonomia. Permita-se esse cuidado. Você não precisa enfrentar tudo sozinha – buscar apoio também é um ato de coragem.